A DITADURA DE BAIXO
A DITADURA
DE BAIXO
Os valores se inverteram tanto na sociedade atual, que
ficamos sem saber o que poderá acontecer com as novas gerações, que ocuparam o
lugar de destaque na família, determinam, gritam, fazem-se obedecer, impõem
todas as ordens, na verdade, acabam vencendo em todos os sentidos.
Na qualidade de mãe, de educadora e na condição de estar na
vanguarda da educação em um dos municípios cearenses, tenho me preocupado muito
com essa troca de funções, nas famílias e o pior, os pais não se dão conta de
que perderam as rédeas e que se encontram reféns de uma clientela que tem
conseguido tudo, através do grito e, em muitas vezes, através de uma violência
camuflada, apanhando dos filhos cuja idade ainda sequer lhes garante a noção do
reconhecimento do certo/errado. Partilho situações de extrema pobreza, mas as
crianças exigem os equipamentos eletrônicos que a mídia lhes ensinou a consumir e a ter e tal
influência se transforma em exigência absurda, que o parco recurso que deveria
garantir o sustento da família é deixado nas lojas em troca da birra das
crianças. A maioria não tem condições de uso e de manutenção de tais
ferramentas, porém, tem o poder de os exigir e de os ter.
Como veem isso os pensadores em educação, os psicólogos,
enfim essa gama de profissionais responsáveis pelo desenvolvimento e pela
orientação das faixas etárias? Eu mesma os vejo, considerando tudo normal e
vejo a sociedade avançar sem crescer, sem construir valores que antes
favoreciam a boa convivência entre as famílias, porque o pai se impunha
positivamente como o cabeça da família e a mãe como aquela doméstica exemplar
cujas virtudes de zelo, de proteção, de amor, de respeito e de carinho se
tornavam os ingredientes essenciais à formação da família. Não faz poucos dias,
em que presenciei uma cena absurda dessa troca de funções no interior das
casas, pois acho que nem lares são mais. Uma criança de mais ou menos seis anos
de idade deixou a sala de aula, pois o tempo letivo havia terminado e a mãe o
recebeu na porta da sala, sentou-se à entrada do colégio, aguardando a hora
exata de levar a pequena autoridade familiar para casa. O horário já estava
avançado; horário de almoço. A pequena autoridade de seis anos exigiu um
sorvete. A mãe tentou convencê-lo do avançar da hora e do apetite que,
certamente a guloseima coibiria. O garoto gritou, esperneou e a mãe insistiu em
ser dura, mas estava clara a sua falta de autoridade. O garoto quis mostrar a
todas as pessoas que o dono da casa era ele e aí, espalmou a mão e encheu a
cara da mãe de pancadas. Ele não criou uma cena, apenas deu uma demonstração de
como as coisas se resolvem dentro da sua casa. O mandante é ele; a mãe só tem
um direito: obedecer-lhe. E o final da história? A mãe humilhada diante de
todos e o filho com o sorvete na mesma mão que espancou a mãe; pois, como diz o
poeta, “... a mão que afaga é a mesma que apedreja...”
Pretendo partilhar este desabafo com quem, na verdade, pode
interferir, divulgando-o, preocupando-se com o novo modelo de família e
advertindo a sociedade para unir vontade e desejo a fim de que se continue
acreditando nos grandes pilares, que ao meu ver, continuam sendo sustentáculo
desta sociedade: a família, a igreja (seja ela qual for) e a escola.
Infelizmente, teremos um castigo punitivo aos futuros adultos, porque não os
educamos, enquanto crianças. Eu me preocupo a cada situação que presencio, mas
temos de ser plural nas ações.
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